Há uns tempos deu na televisão uma reportagem de uma barqueira de uma barragem. Fez-me lembrar as férias de verão no alentejo, íamos de comboio pela linha da beira baixa, fazendo transbordo em Campolide e Braço de prata. Chegando a Braço de Prata pensava eu que já estava no interior de Portugal, pedia aos meus avós para comprar um livro de banda desenhada do Cebolinha, entretinha-me a escrever o nome de todas as estações e apeadeiros até ao nosso destino. Umas das principais atracções era ir à casa de banho do comboio, que servia sabonete ralado através de um dispensador e que permitia espreitar as pedras da linha do comboio através do fundo da sanita.
A segunda grande atracção era composta pelas iguarias gustativas que a avó preparava, ovos verdes, sandes de presunto, broas.
Chegando à estação que ficava mais próxima da nossa aldeia, havia que apanhar o barco. Aliás, a barca. Descíamos pela margem do Tejo, onde um barqueiro nos esperava. Lembro-me de tocar na água com a ponta dos dedos, o suave ritmo dos remos, o silêncio do rio, como consegue o barqueiro remar o barco de costas para a margem?, o brilho do sol sobre a superfície da água, parecendo querer mergulhar.
O comboio deixou de parar na estação, o barco agora é a motor
e eu nunca mais li um livro do Cebolinha.

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