Proibido sentar nas escadas

E enquanto a senhora sentada ao meu lado abanava a cabeça em reprovação, ia também se abanando com um papel de publicidade a internet banda larga que distribuiam à entrada. Eu continuo a ler, e ela diz para uma outra senhora que se tivesse trazido um livro também estaria entretida. E continua dizendo que é uma indignação esperar tantas horas, que é inadmissível, que ela é uma pessoa muito doente e está ali antes das dez da manhã.
E aí eu fecho o livro, ela começa a falar olhando também para mim, esperando que eu responda qualquer coisa, ou diga um pois é ou acene com a cabeça. Mas eu levanto-me, sento-me nas escadas, abro novamente o livro e continuo na parte em que o narrador começa a descrever a cidade, mas de repente dou com o meu olhar nos pés do senhor da empresa de segurança privada, que me diz que não posso estar sentada nas escadas. Aponta-me a sinalética. Proibido sentar nas escadas. Motivos de segurança, diz ele, podem tropeçar em mim. Levanto-me, circulo, passeio-me pelos lados da segurança social, serviço estrangeiros e fronteiras, lisboa gás. Avisto ao longe a mãe de um doente que em tempos cuidei. Ela nem se deve lembrar de mim, as pessoas ficam diferentes, mas ela está igual. Sentava-se ao lado da cama do filho e embalava-o, apesar de ele ser já adulto. Crescido, portanto. E ficava lá até ao último minuto da hora de visita. Ela está igual.

0 ovos: