Que será que pensam as pessoas?



Regresso de comboio a casa. Fui a Lisboa renovar o bilhete de identidade e levantar um exame ao hospital. Ao almoço o empregado de mesa rondava os clientes, mãos atrás das costas, que descruzava quando levantava o prato e perguntava, e para sobremesa?
Na mesa contígua, um senhor sorve da colher a sopa de legumes. Peço a conta. Desço a rua e apanho o metro.
Na outra carruagem, à distância de um vidro, um rapaz sussurra ao ouvido de uma rapariga, o que sussurará ele?, ela segura-se a ele pelas presilhas das calças. Entro numa loja, uma senhora pergunta-me se a camisola que traz na mão é do tamanho L, porque ela costuma comprar o L, mas com estes óculos não vê nada bem, obrigado menina.
De volta ao comboio. Parece que são as pessoas que se estão a mover e não o comboio a andar. Parece que quem corre são as pessoas na gare, as estradas, as árvores, as casas, os túneis, os graffitis, benfica crew, eixo norte-sul, segunda circular. Gare de novo, publicidade a um creme auto-bronzeador, só um bronzeado uniforme pode ser bonito. O outro comboio cruza-se em sentido contrário, ficando os passageiros de ambos os comboios a olharem-se mutuamente. Que será que pensam as pessoas?

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