Um pai pergunta a filho se já fez os têpêcês.
O filho responde: yah.
O pai diz ao filho que ou é sim ou yes,
Que yah não é nada.
O filho responde que sim que ele sabe, que yah é língua ordinária.
O pai conclui, isso é língua que tu usas com os teus amigos.

Duas sugestões:
Na estação do Rossio, uma exposição para os amantes de comboios, sobre a história dos caminhos de ferro portugueses, exposta no interior de um comboio, com filmes, dados históricos e venda de material promocional temático.
No CCB, exposição de fotografia de Gérald Bloncourt ("Por uma vida melhor"), sobre a vida dos emigrantes portugueses na França nos anos 50 e 60.
Fica a ideia para um dia diferente.
O som do silêncio é o mesmo que faz a gota da chuva quando cai no chão, é o som de um pestanejar, do momento do acordar, do sol quando rompe o horizonte, é o som de um olhar do outro lado cidade, de um sorriso, do vento a percorrer as folhas das árvores. É o som de um movimento, do virar de uma página, o som do silêncio é igual ao som do pensamento.
A afasia global, uma situação preocupante, é uma perturbação de todas as faculdades da linguagem.
Damásio (2000), refere: “Os doentes são incapazes de compreender a linguagem, auditiva ou visualmente. Quando se fala com eles não compreendem o que dizemos e não conseguem ler uma única letra ou palavra; não são capazes de falar, para além de produzirem palavras estereotipadas e palavrões; não conseguem repetir qualquer palavra ou som, mesmo que isso lhes seja pedido com insistência. Não há qualquer prova de que, nas suas mentes vigis e atentas, se estejam a formar quaisquer palavras. Pelo contrário, o seu processo de pensamento parece não usar palavras” (p. 135).
Damásio, A. (2000). O Sentimento de Si. (7ª edição). Mem Martins: Publicações Europa-América.
como consegue o barqueiro remar o barco de costas para a margem?
0 ovos apontado por ovo zero às 21:27A segunda grande atracção era composta pelas iguarias gustativas que a avó preparava, ovos verdes, sandes de presunto, broas.
Chegando à estação que ficava mais próxima da nossa aldeia, havia que apanhar o barco. Aliás, a barca. Descíamos pela margem do Tejo, onde um barqueiro nos esperava. Lembro-me de tocar na água com a ponta dos dedos, o suave ritmo dos remos, o silêncio do rio, como consegue o barqueiro remar o barco de costas para a margem?, o brilho do sol sobre a superfície da água, parecendo querer mergulhar.
O comboio deixou de parar na estação, o barco agora é a motor
e eu nunca mais li um livro do Cebolinha.
mão morta mão morta vai bater naquela porta
cruzes canhoto
morte macaca
rabo de saia
rei na barriga
mais olhos que barriga
barriga de fome
Há peças de vestuário que deixaram de ser usadas. É o caso das ceroulas, do saiote e da combinação. O lenço na cabeça das senhoras também era moda no tempo da mocidade dos meus pais. A boina dos homens também cai em desuso. E quem não se lembra das termoterm (eu não tenho frio, eu uso uma termotem), se é assim que se escreve termotem?!
Também existiram várias modas de óculos. Os meus primeiros óculos, aos seis anos, foram cor de rosa. Passando a fase do metálico, no princípio dos anos 90 chegou a fase das armações de massa. Quanto maiores e mais redondos fossem os óculos, melhores. Mesmo que desproporcionais à cara da pessoa que os usava. Aliás, histórias engraçadas de óculos tenho muitas, quase tantas como histórias de vómitos (ui, mas isso dava para um blog temático). Uma vez, estava a andar de carrossel, naqueles que têm umas cadeiras giratórias, girei girei girei, até que os meus óculos giraram também. O senhor do microfone, que anuncia as delícias daquela atracção infantil, divulgou o desaparecimento na feira (perderam-se óculos de menina) e alguém os encontrou algures no chão.
Também houve o dia em que perdi uma lente a caminho de casa, e só dei por isso ao final de várias horas. Bom, e a mais recente foi no outro dia, em que tomei banho de óculos e só notei quando senti a visão embaciar.
Conduzo pelas ruas como se fosse outro mundo, um país estrangeiro. Oiço a máquina de lavar da vizinha de cima a centrifugar e lá mais longe do ouvido um comboio passa na estação tac tac tac tac tac tac.
Ao décimo primeiro minuto sublinho a data e o nome do professor, que ao terceiro minuto anotei no caderno.
Ao décimo segundo minuto começo a escorregar na cadeira e a trocar de posição os pés.
Ao décimo terceiro minuto começo a filtrar o discurso da professora à procura de expressões interessantes e escrevo-as no caderno. Hoje ganharam: esqueleto do sumário, limar arestas e vamos fazendo.
Ao décimo quarto minuto penso por ordem decrescente de importância nas coisas que tenho de fazer assim que chegar a casa (levantar o passaporte, comprar iogurtes naturais açucarados).
Ao décimo oitavo minuto conto o número de cornucópias que se reproduzem no casaco da professora.
E quando esgoto todas as actividades recomeço novamente.
De qualquer modo os trovões sempre me arrepiaram de medo. Penso que herdei esta característica da minha avó. Numa ocasião, lembro-me de ser manhã e estar em casa dela, sentada na cozinha numa das cadeirinhas de verga, enquanto ela fervia o leite para o pequeno-almoço (no fogão, no tempo em que ainda não se usavam microondas), começar a trovejar, e ela me dizer que não gostava nada de trovões, parecia coisa do diabo.
Gosto de começar a ler revistas e jornais pelas últimas páginas.
Gosto de usar os guardanapos de papel dobrados em triângulo.
Gosto de passear pela minha rua quando entardece.
Gosto de cheirar roupa lavada e ouvir risos que escorrem de uma janela.
Gostava de poder andar até nunca mais, até perder o céu de vista, até não haver mais chão, descobrir que afinal a terra é mesmo plana e cair no buraco do outro lado do mundo, ver as imagens invertidas da nossa existência, um mundo igual mas ao avesso, ver sem poder tocar ou existir.
Gostava de subir o monte até ao cume, ficar lá até me cansar de estar sozinha, olhar a cidade, as nuvens a mexer de inquietação, pássaros aos pares que poisam no ramo de uma árvore e voam de novo até ao cimo do que podem voar.
Gostava de ser de uma cor translúcida e olhar para além da palma das minhas mãos.
Não há nada como ver o sol nascer, o balanço do barco simula estados de embriaguez matinal, o vento corre contra a nossa cara e faz os cabelos dançarem a favor da velocidade. Parece que estamos vivos outra vez, que nascemos de novo, subimos ao cimo dos nossos dias, deixamos para trás tudo o que nos faz não dormir à noite.
Estou a arrumar os cantos ao blog. Vai demorar uns momentos.